sexta-feira, 24 de novembro de 2006

likewise, you're going to have to wet your feet in the sea of service before god will promote you to swimming. and you may first spend a stretch in the shallows. but the point is to stay in the water.

pensava se existia uma tradução exata pra sea foam green, e se um dia eu conseguiria imaginar, ao mesmo tempo, faixas paralelas dela e de azul-piscina não-iguais e sem o azul piscina ser azul-bebê. complicado, descobrir que tipo de habilidade pode ser desenvolvida - eu tenho o olho da mente míope que só, tudo umas manchas aquareladas se interpondo. quando menor (e até hoje, suponho) queria me treinar para ter uma percepção lenta e detalhada, que o tempo passasse mais devagar.

o nome da cor me lembrou o mar, por motivos óbvios, e me lembrou de uma aula essa quarta em que eu e mais dois desconhecidos tivemos que trabalhar em grupo. um deles, não natural daqui, disse que o que fazia falta mesmo em brasília era praia perto - o que não provocou reação concordante de nenhum dos dois, porque não sinto falta, nem nada, e nem ele, parecia. percebi nesse momento que havia melhorado um pouco meu impulso de concordar com tudo para evitar conflito mínimo que seja - já disse que também gostava de reggae, que sim, essa mudança aqui na música ficou boa etc. eu não gosto de dar opinião.

mas há, sim, muitas coisas bonitas com praia, como com virtualmente qualquer coisa, suponho. não mulheres, não existem mulheres bonitas no litoral brasileiro, mas à noite, tal, talvez. chegando no hotel à noite, decide aproveitar a vaziês para caminhar e apreciar a lua, sei lá, e molhar o pé no mar. daí, chegando, percebe que o reflexo da lua é bem mais belo que ela, e coloca o pé na pocinha recém-trazida pela onda, formando ondinhas nanicas que se expandem em círculos - rumo a você, elas acabam assim que encontram a areia, mas continuam indefinidamente em direção ao alto-mar. mas as ondas maiores as comem, e você se sente meio lesado ao ter suas ondinhas impedidas de chegarem em portugal, e você se pergunta se algo dessa próxima onda vindo já esteve na costa portuguesa alguma vez. na mesma direção, considera a possibilidade de estar pisando em um exato grão de areia com o qual uma criança construiu um castelinho em 1976, e que você cruzou com essa não-mais-criança em 1998, ou então de alguma forma, por uma seqüência de eventos, ajudou a salvar a vida do pai, do tio dele. mas daí se percebe que há muito você começou a ser bobão, e volta a andar, a espuma do mar estourando suas bolhinhas em volta dos seus tornozelos, e você pensa que sentiria cosquinha se os nervos fossem expostos; se bem que não, já que dor, também, com o sal e aquilo tudo. conclui que a natureza é sábia, e, no momento em que conclui, ataca sua perna, trazido pela onda, um papel de picolé antigo, desbotado, embalagem anterior ao redesenho do ano passado. o limão desenhado, antes verde-vívido, agora é uma mistura de amarelo feio com sea foam green (isso foi muito cretino). como ele ainda está aí na costa ou de onde veio ou por onde passou até chegar aí, você não sabe, mas coincidência não pode ser. umas duas, três cidades acima uma criança descuidada deve ter deixado o picolé dessa embalagem cair no chão e encher de areia e, ao lavá-lo no mar e colocá-lo na boca, a mãe vem correndo e gritando que não pode, toma a guloseima da mão dele e a joga no lixo. mais tarde o moleque passa mal, e a mãe diz 'viu, viu', mas na verdade o que o fez passar mal foi o jantar. ele sabe disso de alguma maneira, e insiste nisso, mas ninguém o ouve. daí a embalagem, triste com um mundo que possibilita esse tipo de injustiça, volta pra dar sustinho em gente que tem medo de arraia. não é bem o seu caso - não na beira do mar, ao menos. mas um dia Embalagem terá sua paz, pois uma garrafa azul-transparente de água virá lhe dizer que, por obediência descontente e costumeira à autoridade da mãe, o moleque lá escapou de estar num trem que descarrilhou e matou vinte e sete pessoas a bordo. não lhe contará, porém, que a única sobrevivente era uma menina bonita, solteira, da idade do moleque, que faria um belo par com ele - se ele estivesse lá e sobrevivido, decerto teriam vivido uma vida excelente juntos, com uma história e tanto pra contar pros filhos. mas isso nem aconteceria, não. estivesse lá mesmo, ele teria sido almofada pra uma mulher de setenta anos, que morreria mesmo assim. mas só deus sabe disso, no caso; a garrafa carrega consigo a angústia dela e da embalagem, e a embalagem segue tranqüila mas com algo lhe dizendo que algo não está certo (também tente considerar os dois "algo" como o mesmo algo; dá voltas divertidas, se em junção com o significado intencional). daí você se sente cidadão, pega a embalagem e joga no lixo e cata duas conchinhas e volta pro hotel e bate na porta errada.