terça-feira, 18 de setembro de 2007

we'll roll on with our heads held high (8)

manifestações aqui no trabalho esses dias. 'atos' é como chamam. o motivo não é importante (pra esse post) ou interessante, é neguinho sendo ladrão-polícia-capitão e querendo zoar os servidores concursados. estive presente nas duas, claro que meio de brink's (a primeira envolveu centenas, talvez milhares de cabides, há foto minha fazendo malabarismo com dois isolado de todo mundo, que vergonha. houve quadrilha, também), embora o motivo seja válido pacas; mas a de hoje foi especialmente massa.

(tom de história admitido a partir daqui)

meu horário, quando à tarde, começa às treze. chego, e logo na entrada - a do lado, não a principal - percebo que ela está meio fechada, uma porta de duas aberta, como que pra controlar o fluxo. surge do escuro um rapaz do sindicato que sabe meu nome (meu crachá não tava com o nome visível, tava ao contrário) me diz pra deixar minhas coisas no setor e ir pra área perto do plenário.
- 'ah, é? que vai ter lá?'
- 'hoje vai ser votado o projeto de *explicação hermética que não vale a pena transcrever*'
- 'ah, sim, sim, vou chegar lá, então' (como se eu algum dia já disse não pra algo)

daí subo as escadas, e pro local de trabalho; passo meia hora fazendo servicinhos, e pouco antes das duas somos todos convocados a nos reunir perto do plenário. vão os outros três (tavares, fabio e vandinha), e daí aquiesço, falo para irem na frente que eu já vou (tava mandando email pro customer service da vans). e vou, três minutos depois, e tranco o setor.

chegando lá, há um movimento razoável. o diretor do sindicato de terno e bochechas pintadas - uma faixa de verde numa, uma faixa de amarelo noutra. logo isso se espalha, bando de gente aderindo, menina loira que nunca vi vestindo a menor saia do mundo e passeando com guache na mão, indicador verde, dedo-do-meio amarelo. lembranças horríveis do dia do índio quando criança. eu evitava a mina, obviamente.

daí percebo que tudo ali é muito evento-de-escola em horário letivo, gente espalhada, conversando, nada como é normalmente. grupos formados, e eu não pertencendo de verdade a nenhum, passeio entre dois (heterogêneos pacas), sempre só ouvindo a conversa. meio agradável como olhavam pra mim bastante ao falar, parece que realmente queriam que eu ouvisse e tal, assuntos os mais variados. daí depois me desprendo do movimento e passeio um pouco sozinho pela casa (é assim que chamamos) toda - e é a mesma sensação quando saía meio escondido do auditório do inei, ou da quadra, e passeava por lugares sozinhos, sensação especial de não estar onde todo mundo tá, sei lá. é exatamente a mesma coisa, tudo, todos; a diferença é que agora é que são todos adultos, e eu tenho a chave da porta da sala.

de volta pra junto do resto, o grupo se esforçava pra fazer um bloco de gente que bloqueasse a entrada e impedisse os que trabalham no plenário (taquígrafos e coisas) de entrar lá, para que o projeto o qual são (somos) contra - este ilegal, aliás - não fosse votado. coisa louca, eles ignorando o pedido dos seguranças, respondendo de volta. firmões, todos, sendo um portão humano.

imagino que, de lá, eu sou a única pessoa (talvez tenha de excetuar o povo da coordenadoria de informática) que já jogou age of empires. assim sendo, me ocorre que há uma entrada do outro lado, no estacionamento interno, a qual eles podem estar usando. vou lá por conta, e, certo como a chuva, entram assessores e taquígrafos e deputados por lá, como paladinos prontos pra atacar a nossa cidade ('nossa', é; faltava alguma identificação pra eu me sentir incluso na coisa). mas claro que não aviso ninguém, e demora a eles mais de meia hora pra alguém constatar a possibilidade - e isso é só quando alguém volta da galeria do plenário dizendo que ué, mas estão quase todos lá dentro. mobiliza-se um grupo pra ir pra lá, e eu os sigo, mas foi algo ridículo, tipo doze pessoas. quase clico um mouse imaginário no ar, seguro o botão fazendo uma diagonal de tal forma a selecionar todos e mandá-los construir uma watch tower, sei lá. me pergunto se há pedra e madeira o bastante - e do outro lado do estacionamento há a carpentaria, onde o carpinteiro serra umas tábuas. rio sozinho com situações imaginárias, me entreto com elas.

daí transito inquietamente entre os dois exércitos pra ver o que acontece, e vou pra longe, pra todos os lugares, como se fosse achar algo - não necessariamente relacionado, nem nada, só algo. ando sozinho, eu que conheço o lugar inteiro (já cobri diversas vezes pro tavares na entrega de correspondências, tal), e sentimento inei oh, tão forte. triste não ter amigos pra compartilhar, lembrar disso depois junto, mas houve horas lá (no inei) que também foi tudo feito na solitud vibe. compro um casadinho na banca.

resolvo descansar no setor, e checo meu email Gmail - Inbox (1), e é a resposta do povo da vans. diz que eu preciso ligar lá pra completar meu pedido. não há ninguém por perto, no que é de boa falar inglês, e então ligo. o atendimento automático é todo jovial, cumprimenta com 'hey', menina de 21 anos (que usa vans) falando, parece. quando falo com a atendente de verdade é a mesma voz, vejam só. simpática pacas, ela. resolvemos tudo e ela se despede com um 'bye-bye, flahvee-oh' sorrindo. entra a célia na sala e eu tenho que decidir, em um segundo, se eu sou antipático com a christy ou se digo 'bye' na frente de pessoas, o que pode ser mal-interpretado. decido que quem é ela pra me julgar?, despeço de volta. a celinha nunca julgou ninguém na vida, de toda forma.

volto a passear, vendo as pessoas. há uma mulher, a mais bonita da câmara (e imagino que nos seus quarenta, já) conversando com a amiga de uma amiga da mãe de um amigo meu. eu conheço as duas, e elas parece que riem de mim, falam de mim de longe. deve ser pelo fato deu não parar quieto em um só lugar, sempre com cara de perdido (elas se mantiveram no /exato/ mesmo ponto durante as, sei lá, quatro horas de manifestação). e há gente realmente em estado de guerra, é muito massa. no lugar-mor do ato eles pegam um quadro de recados enorme e carregam pra frente da porta. impossível não pensar em stone wall; colocam uma mesa na frente do quadro e daí fortified stone wall.

post ficando longo, ninguém gosta de post longo. enfim, no final das contas o projeto foi votado e aprovado e ficamos nós todos tristes, mas parece que uma entrada na justiça está em ordem, e provavelmente uma greve, que será decidida em assembléia amanhã. vocês ouviram aqui primeiro.